segunda-feira, 20 de setembro de 2010

21 de Junho

Ela despertou minha curiosidade, e fazia tanto tempo que estava adormecida que decidi deixá-la viver um pouco na realidade.
Era estranha porque ela tinha aquele sorriso que parecia o resultado de uma adição dos sorrisos que amo tanto. E aqueles olhos que mudavam de cor e me davam arrepios, e aquelas mãos que se encaixavam tão perfeitamente nas minhas, que eu me senti completa por alguns instantes.
Enquanto olhava dentro de seus olhos, quase acreditei que ela tivesse transferido seus próprios sentimentos para dentro de mim.
Ela tinha aquele poço frio, azul e fundo camuflado no rosto, e ela estava prestes a transbordar com todo o seu medo e amargura. Por algum motivo senti que isso a deixaria feliz, pois ela sobrevivia com os sentimentos de outro alguém.
Mas ela sentiu medo quando olhou dentro dos meus olhos e então decidiu que não os olharia mais. Eu ainda não havia entendido esse medo que as pessoas tinham de mim e do meu olhar… Pois ela não queria machucar ninguém. Talvez fosse intimidador. E é mesmo verdade que ela conseguia descobrir coisas sobre as pessoas que nem elas mesmas sabiam. E também é verdade que ela podia sustentar o mais intenso dos olhares sem vacilar, mas é verdade também que poderia revelar quase tudo sobre mim caso algum dia encontrasse outro olhar atento.
Talvez eu descubra uma forma de não afastar as pessoas, e assim talvez eu aprenda a manter os olhos entreabertos quando eles não estiverem fechados.
Eu continuarei assim, convivendo com o medo dos outros como se fossem os meus próprios, porque eu sou o pior dos monstros, e não tenho outros para temer.


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